Fórmula 1 dos Mares: America’s Cup celebra 173 anos em 2024
A obra de Antoni Gaudí mais visitada de Barcelona, na Espanha, a Sagrada Família, certamente terá, entre os meses de agosto a outubro deste ano, uma concorrente à altura. A partir desta quinta (22), a cidade recebe a 37ª edição da America’s Cup, a competição mais antiga da história. Um evento que, desde o século 19, reúne os melhores velejadores do mundo, movimenta fortunas e é considerado, hoje, a Fórmula 1 dos mares, com embarcações que desafiam os limites da gravidade e da velocidade sobre as águas.
Desta vez, a disputa começa entre a tradicional equipe britânica do INEOS Britannia e outros quatro desafiantes: os americanos do NYYC American Magic, os franceses do Orient Express Racing Team, os suíços do Alinghi Red Bull Racing e os italianos do Luna Rossa Prada Pirelli (leia mais sobre as equipes a seguir).
Times que irão, regata a regata, eliminando uns aos outros. A equipe que sair soberana dessa espécie de mata-mata ganha o título de “Challenger” e, com ele, a oportunidade de desafiar o “Defender”, vencedor da edição passada (desta vez, o Emirates Team, da Nova Zelândia). A partir daí, as duas embarcações passam a se enfrentar em uma série de provas nas quais quem conquistar as sete primeiras vitórias fatura a Copa.
Cheia de regras e de pompa, a disputa data de 1851 – antes mesmo das primeiras Olimpíadas da era moderna, que aconteceram na Grécia em 1896. Embora a prova não abra mão da tradição e conserve, até hoje, muito de seu regulamento inicial, a atual edição chega com novidades. Volta a ter a Louis Vuitton como patrocinadora principal, após um hiato de sete anos, e contará, pela primeira vez, com competições voltadas a duas outras categorias: a Puig Woman’s America’s Cup, exclusivamente feminina, e a UniCredit Youth, regata juvenil.
Assim como em uma Olimpíada, na America’s Cup, cada embarcação permite apenas a participação de atletas de um respectivo país. Além disso, cabe ao vencedor da última edição, detentor do troféu, a decisão sobre qual nação sediará a próxima Copa. O campeão tem também o direito de opinar sobre datas, regras e até quanto ao design técnico dos barcos de seus futuros desafiadores.
O sucesso de uma equipe vai muito além de sua habilidade em velejar, tendo como pilares mais do que importantes o projeto de barcos e velas, a gestão empresarial e sua habilidade de arrecadação de fundos para colocar, literalmente, o barco na água. Embora as empresas patrocinadoras e os clubes de iatismo optem por não divulgar números oficiais sobre os investimentos das equipes, especula-se que, na última edição do evento, que aconteceu em 2021 em Auckland (Nova Zelândia), o custo aproximado para a construção de um AC75, principal embarcação usada nesse tipo de competição, tenha girado em torno de US$ 15 milhões. O valor, entretanto, é apenas a ponta do iceberg. O custo total da campanha de uma equipe, que pode incluir pesquisa e desenvolvimento, pessoal, logística e uma infinidade de despesas, pode chegar a US$ 200 milhões.
Para as cidades que têm a oportunidade de sediar um evento desse porte, a injeção de capital é respeitável. De acordo com um estudo realizado pela Universidade Pompeu Fabra, uma das mais respeitadas da Catalunha, a America’s Cup deve gerar um impacto de mais de US$ 1 bilhão em Barcelona, atraindo cerca de 2,5 milhões de turistas. O município, por sinal, será o primeiro local do planeta a sediar os Jogos Olímpicos e a America’s Cup. Levou a melhor diante de Málaga (Espanha), Cork (Irlanda) e Jeddah (Arábia Saudita), outras regiões cotadas para receber o evento.
Como a America’s Cup começou
A regata mais famosa do mundo começou praticamente ao acaso, em 1851. Foi quando os americanos, partindo de Nova York, resolveram cruzar o Atlântico a bordo de um barco chamado “America”. A ideia era mostrar ao mundo, durante a Grande Exposição (promovida pelo príncipe Alberto, marido da rainha Victória, que desejava celebrar o progresso industrial de todo o planeta) a melhor e mais rápida embarcação de que se tinha notícias. Ao chegar a Londres, o “America” causou. Levou a melhor em uma regata promovida na ocasião ao redor da ilha de Wight, derrotando os britânicos do Royal Yacht Squadron.
O troféu conquistado, um jarro sem fundo – feito de prata esterlina e uma das relíquias do Royal Yacht Squad – se tornaria o prêmio mais antigo do mundo. E que, para desgosto da rainha, foi então levado ao New York Yacht Club. Ele tornou-se, assim, o símbolo de desafio.
Os barcos americanos defenderam o posto e o troféu por 24 vezes: de 1870 a 1980. Em 1983, o Australia II se tornou o primeiro Challenger a romper a hegemonia do New York Yacht Club, levando o troféu para a Oceania. Dessa vez, foi Ronald Reagan, o então presidente dos EUA, o personagem a se revoltar. Considerou a derrota uma vergonha nacional.
Ao longo das décadas, a America’s Cup foi conquistada apenas por Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Suíça. Embora a Inglaterra seja o país com o maior número de participações em Copas, nunca venceu. O evento foi suspenso de 1914 a 1920, durante a Primeira Guerra Mundial, e a partir de 1939, por conta da Segunda Guerra. Voltou em 1958. A recente epidemia de Covid-19 quase o colocou em cheque, mas a prova foi realizada em 2021, na Nova Zelândia.
expresso.arq com informações de Camila Lima, de Barcelona