Investir tempo em espaços verdes pode contribuir à saúde mental. Entenda
Em centros urbanos, principalmente aqueles afastados do litoral, pode ser um desafio se desconectar em meio à natureza. Prédios, veículos e ruídos da cidade nos hiperestimulam e acabam por nos afastar de uma atividade benéfica, afetando a nossa saúde mental.
A psicóloga Ana Paula Camara explica que tem acompanhado mudanças comportamentais significativas nos estilos de vida da população geral associadas à urbanização e aos avanços tecnológicos, que nos inserem em um viver cada vez mais digital e acelerado.
“Estudos apontam tais mudanças como fatores de risco para saúde mental da população: o aumento no contato com telas, isolamento social, perda de movimento (sedentarismo) e aumento no consumo de alimentos ultraprocessados”, comenta.
Por outro lado, parques, praças ou outros ambientes naturais desempenham um papel inestimável na promoção da saúde pública. É o que destaca este estudo publicado na Land Use Policy, que registrou a associação entre a percepção de espaços verdes, a redução de sofrimento psicológico e bem-estar mental geral em duas cidades europeias.
Abaixo, exploramos melhor o tema e damos dicas de como desacelerar, mesmo em locais altamente urbanizados e frenéticos.
Por que deveríamos frequentar mais parques e áreas verdes?
Segundo a psicóloga Claudia Melo, os parques e as áreas verdes desempenham um papel fundamental na promoção da saúde mental da população, oferecendo um ambiente de contato com a natureza, espaços de recreação, relaxamento, contemplação, prática de atividades físicas e interação social.
“Estar em contato com a natureza pode reduzir o estresse, aumentar a sensação de bem-estar, promover a conexão com o ambiente e estimular a saúde mental e sensação de liberdade”, afirma.
Em cidades muito urbanizadas e afastadas da costa, essa importância é ainda maior. Em regiões serranas ou litorâneas, por exemplo, geralmente há melhor umidade e qualidade do ar.
Segundo Ana Paula, os moradores têm, assim, melhor oxigenação do cérebro e, possivelmente, contato com pessoas, familiares ou amigos que possuem um estilo de vida convidativo à contemplação, às pausas e ao desacelerar.
“Nós sentimos essas pausas como necessárias, mas, muitas vezes, deixamos para vivenciar esse contato nas férias ou nos feriados prolongados. Vivenciar isso como parte do nosso cotidiano ao longo dos 365 dias do ano é uma recomendação para a promoção e manutenção da nossa saúde mental”, diz.
“A presença de parques e áreas verdes oferece um refúgio de tranquilidade, ar puro, contato com a natureza e oportunidades de lazer, contribuindo significativamente para a saúde mental e o equilíbrio emocional dos moradores”, defende Claudia.
Crianças e natureza
Trocar o tempo de tela pela experiência na natureza também pode ser benéfico às crianças, pois isso proporciona estímulos sensoriais, oportunidades de exploração, aprendizado, criatividade, exercício físico e interação social. Neste processo, também é estimulado o desenvolvimento integral (emocional, físico, intelectual e social).
É por essas razões que, desde 2019, a Sociedade Brasileira de Pediatria trabalha com o Programa Criança e Natureza, ressaltando os benefícios que este contato traz à vida dos mais jovens, ampliando inclusive a sua capacidade de independência.
Como desacelerar
Mesmo em São Paulo, um dos principais centros urbanos do país, é possível encontrar refúgios naturais acessíveis. Eles incluem o parque Ibirapuera, o parque da Independência, o Jardim Botânico, o parque Villa-Lobos, o parque da Aclimação, o parque da Água Branca, o parque Ecológico do Tietê, o Horto Florestal, o parque Ecológico do Guarapiranga, entre outros.
Mas, para desacelerar e preservar a saúde mental, é possível ir além. “É importante investir em espaços verdes acessíveis, promover a arborização das ruas, criar parques urbanos, incentivar a prática de atividades ao ar livre, priorizar a mobilidade sustentável, reduzir o ruído e a poluição, estimular a convivência comunitária e sensibilizar para a importância do contato com a natureza e do autocuidado emocional”, diz Claudia.
Já Ana Paula ressalta a importância de considerar a individualidade – pois o que faz sentido para um, pode não fazer para outro. “Acho que é algo para se perguntar à população, pois, talvez em bairros diferentes, possamos encontrar respostas diferentes e significativamente importantes”, diz.
Para ela, a criação de espaços públicos, que possam ser esse espaço de pausa, para a suspensão do cotidiano, é um bom caminho. Pois, muitas vezes, o maior agente estressor na vida de uma pessoa se encontra no próprio lar.
“Ter a oferta de um espaço para o não fazer, o respirar e o simples estar de modo seguro é importante. Para outras pessoas, será necessário a oferta da atividade física, o contato com a natureza, os animais e a fauna e flora”, finaliza a psicóloga.
expresso.arq com informações de Yara Guerra