Arquiteto abre bastidores da reforma do estádio Santiago Bernabéu: “Privilégio materializar algo capaz de transmitir tantas emoções”
O novo estádio Santiago Bernabéu, concebido pelo estúdio alemão GMP, é o resultado da ambiciosa transformação da histórica casa do Real Madrid. A remodelação, iniciada em 2019, renovou não só a sua estética, mas também a sua funcionalidade: o seu elemento mais característico é a fachada de 14 mil chapas de aço e faixas horizontais de iluminação LED, bem como o novo teto retrátil que pode cobrir completamente o campo em cerca de quinze minutos. As arquibancadas, que podem acolher cerca de 81 mil lugares, foram otimizadas para melhorar a visibilidade de qualquer ponto. Além disso, as instalações VIP e as áreas de hospitalidade foram melhoradas.
Uma das características mais impressionantes do interior é a instalação de uma tela gigante de 360 graus que rodeia todo o perímetro. Tal como aconteceu nos estádios de Frankfurt e Colônia, na Alemanha, a GMP manteve a atividade do Bernabéu durante as obras, cuja fase final está cada vez mais próxima. Atualmente, a melhoria da acústica – especialmente para a realização de eventos musicais – e da iluminação exterior são o principal foco do trabalho do estúdio, cujo resultado final será visível nos próximos meses. À frente deste projeto está a equipe liderada pelo arquiteto Markus Pfisterer, que foi entrevistado contando todos os detalhes.
Em 2014, o atelier GMP venceu o concurso para a reabilitação do Santiago Bernabéu, juntamente com o L35 Arquitectos e o Ribas & Ribas Arquitectos. O que você lembra desse momento?
Markus Pfisterer: Quando recebemos o contrato, lembro-me que a primeira coisa que fizemos foi comprar várias camisas do Real Madrid para os nossos filhos. Nosso fundador Volkwin Marg também esteve lá e comprou nove camisetas para os netos. Eu tenho duas filhas e elas eram muito novas na época. Parece inacreditável, mas já se passaram onze anos! Antes de o projeto ser atribuído, trabalhamos durante dois anos no concurso, e para isso, estabelecemos parcerias com a L35 Arquitectos e a Ribas & Ribas Arquitectos porque queríamos ter parceiros locais.
Quais foram os maiores desafios desta reforma?
M.P.: Na arquitetura há sempre dois níveis de complexidade. O primeiro é o desenvolvimento do projeto. Neste caso, tínhamos um estádio que já existia e está cheio de história. Ainda existem fragmentos da construção do início do século XX que ainda são visíveis. Depois, houve inúmeras ampliações das arquibancadas, além de outros acréscimos: as grandes colunas de concreto foram feitas em 1988, e ainda em 2002 houve a ampliação da ala oeste com um pequeno telhado. Portanto, já havia muita história no que diz respeito ao projeto do estádio. Em segundo lugar, outro nível de complexidade é aquele que inclui a própria construção, onde é necessário encontrar uma linguagem arquitetônica radicalmente nova.
O estádio continuou funcionando durante as obras?
M.P.: Isso mesmo. Contamos com a ajuda da FCC, que nos permitiu manter o estádio aberto durante as obras. Na GMP já tínhamos muita experiência com isso, porque fizemos a mesma coisa no estádio de Frankfurt e até no estádio de Colônia, aqui na Alemanha, onde foi realizada a Copa do Mundo de 2006, e esses espaços também tiveram melhorias notáveis. Portanto, estávamos bastante otimistas e acreditávamos que nosso projeto seria viável. Mais tarde, apareceu a pandemia do coronavírus e isso permitiu à empreiteira avançar com as obras sem jogos de futebol e sem espectadores.
Quais são as inovações que foram incorporadas ao novo estádio?
M.P.: O ponto de partida foi a estética do estádio, que não era a mais adequada para a ideia do clube. Por um lado, era urgente conceber uma nova fachada e incorporar uma cobertura retrátil no estádio. Esta última permite a realização de jogos de futebol em todas as condições climáticas. No entanto, o novo Bernabéu também teve que acolher concertos e outros eventos, para os quais é muito importante estar protegido da chuva. Por isso, esta cobertura estava lá desde o início. Sempre quisemos construir um sistema que desaparecesse completamente de um lado do estádio e isso é algo que a FCC tem executado com grande sucesso. Outra inovação foi a enorme estufa subterrânea que preserva o campo de jogo, com diversos tabuleiros de 1.500 toneladas que escondem a grama no subsolo.
Em que fase se encontra a reforma atualmente?
M.P.: Neste momento, estamos trabalhando no sistema de iluminação, que nos permitirá ter um espetáculo fantástico no futuro. Paralelamente, continuamos trabalhando em outras reformas e melhorias nos banheiros e demais áreas de serviço. A boa notícia é que as coisas mais importantes já estão em andamento, como o teto retrátil, a fachada, a estufa de relva, o museu… Neste momento, o Bernabéu está pronto para receber jogos e eventos. Uma construção deste tipo é muito semelhante a um aeroporto: pode ser inaugurada a qualquer momento, mas leva mais tempo para entrar e ser consolidada.
O que significa para um arquiteto trabalhar em um projeto de relevância global?
M.P.: O que vivemos com o Real Madrid, tanto como clube quanto como cliente, fio uma experiência excepcional. Este projeto é um reflexo de que o estádio e o clube estão muito conectados, e vejo muitas coisas muito positivas. Para um arquiteto, é incrível ver que o seu trabalho apela aos sentimentos das pessoas. Construir um edifício que resolva um problema é algo prazeroso, mas é ainda mais gratificante se você também conseguir materializar algo que seja capaz de transmitir emoções. É um privilégio fazer as pessoas felizes.
expresso.arq com informações de Iñaki Laguardia